14 setembro 2006

RETIRADO DO SITE "POEMAR" DE JOÃO MOUTINHO

A história desconhecida das "Memórias"
Para minha grande surpresa e, porque não dizer satisfação e orgulho, vejo incluído nestas "Memórias do Rock português" o meu primeiro single de 1981 constítuido pelas canções ROCKOLAGEM e A PASTILHA.
Sem o Aristides Duarte sequer imaginar ofereceu-me uma belíssima prenda de "Bodas de Prata", nestas andanças dos discos, cuja única forma de agradecer é poder, humildemente, fazer a promoção do seu livro, neste humilde site, um tributo pessoal que todos os que estão incluídos nesta obra, não duvido, agradecerão.
A história do meu single incluído nas "Memórias" é muito original pelo que não me eximo de puxar pela memória e tentar contá-la em toda a sua extensão.
Depois de 17 anos de "música de baile" resolvi encostar às "bocks", parar com aquela loucura de andar de amplificadores às costas por este país inteiro, cantar horas e horas a fio, a troco de uns míseros escudos que, muitas vezes, nem davam para pagar os aparelhos necessários para uma "razoável" prestação musical. A minha última prestação a nível de vocalista de grupo de baile terminou na Passagem do Ano de 1980 para 1981. Curiosamente a minha banda tinha sido contratada pelo Partido Comunista Português para actuar no Pavilhão da Académica da Amadora. Como o Pavilhão era enorme, a nossa humilde aparelhagem não teria capacidade para encher de som o enorme pavilhão. Então o PCP pediu emprestado o P.A. (Public Adress System) ao Luis Cília.
A minha modesta aparelhagem de vozes serviu nesse dia de munição para o nosso baterista. Enfim um luxo enorme naqueles tempos. Eu tive pela primeira vez ao longo daqueles 17 anos a possibilidade de me ouvir através de monitores que estavam virados para mim. Senti-me nas nuvens. Nunca me tinha ouvido tão bem. Os meus próprios colegas de banda estavam espantados com a prestação que fiz naquela noite, eles que diziam que a minha voz estava gasta e não tinha mais hipóteses como vocalista. Ao fim de 10 horas seguidas de canções, de muito rock, de muita marcha brasileira de carnaval, estava muito satisfeito. Afinal não era eu que estava mal, era a aparelhagem que não tinha condições.
A resolução tinha sido tomada antes desta última experiência e troquei a minha aparelhagem de vozes, uma HH razoável de 200 watts, por um carro NSU Prinz, e julguei ter terminado aí a minha aventura musical. Puro engano.
Em alguns dos nossos últimos ensaios resolvemos experimentar algumas músicas originais com poemas em português de minha autoria, motivados pelo programa do Luís Filipe Barros, o Rock em Stock, que passava na Rádio Comercial. Gravámos num pequeno gravador de trazer por casa umas quantas canções. Recordo-me que uma delas chegou a passar no programa mas por aí se ficou a aventura.
Um dia de manhã muito cedo para mim, 7h sou acordado pela minha esposa que me disse assim: "João tens a mania que escreves ouve o programa que está a passar". Acordei meio estremunhado e fui ouvir o programa das 7 às 10 do Luís Pereira de Sousa que pedia muito afincadamente aos ouvintes uma versão em Português, cujos direitos reverteriam para oferecer à UNICEF, duma canção dos ENGLISH BOYS que versava o tema dos diminuídos físicos.
Estavam a passar o original cantado. Peguei no gravador e gravei a versão original. Escrevi, entretanto uma letra sobre o tema. Uma ideia louca veio-me à cabeça na altura: Se estes "gajos" passassem apenas o instrumental, talvez eu conseguisse fazer uma gravação caseira já em português. Telefonei à Rádio e satisfizeram esse pedido. O promotor da Editora Gira, tinha com ele a bobine do instrumental e passaram. Eu gravei o instrumental e, com um daqueles gravadores que têm micros incorporados, coloquei o instrumental a passar na minha aparelhagem caseira e cantei para o gravador a versão portuguesa.
Não me desgostou o resultado e disse à Graça, minha mulher, vou à Rádio Comercial mostrar isto. Resposta: "Tu és mesmo doido". Cheguei à RC às 9h30m. Disse ao que ía. Deixaram-me entrar e o promotor da Editora perguntou o que eu queria. Disse-lhe: Tenho aqui uma versão da canção que pedem já em português e cantada. Ele disse: "Mas o concurso é apenas de letras". Eu respondi: Na gravação está a letra se interessar, ok!.
O Promotor foi falar com o Luís Pereira de Sousa o radialista e contou a história. A música passou ainda nesse dia. O concurso morreu por ali. O ANDA DAÍ que eu tinha escrito em cima da música dos ENGLISH BOYS, na opinião deles, e como se diz actualmente "arrasou".
O Concurso que servia também de lançamento para a Editora Gira tinha como prémio a gravação de um single com a letra vencedora. Nunca se chegou a realizar, nem o concurso, nem a gravação.
Além da gravação do ANDA DAÍ eu tinha levado comigo uma cassete com as gravações de garagem da minha antiga banda, onde se encontravam a ROCKOLAGEM e A PASTILHA. O promotor da editora, curioso, perguntou-me se eu tinha mais alguma coisa e mostrei-lhe a cassete. Foi ouvida logo ali na Rádio Comercial.
Pouco tempo depois quiseram que eu gravasse não o ANDA DAÍ mas a ROCKOLAGEM e A PASTILHA. Fiquei meio atrapalhado, porque já não tinha banda mas, fui falar com eles e aceitaram ir para estúdio fazer as duas canções. Era o "Boom" do Rock Português que este livro relata bem "MEMÓRIAS DO ROCK PORTUGUÊS".
Para os músicos de baile, a hipótese de gravar um disco era alguma coisa impensável naqueles anos. Fomos para estúdio sem produtor, coisa rara naquela altura. Era mais ou menos o "salve-se quem puder" o "mostra o que vales". Deram-nos dois dias de estúdio.
Nunca mais me esquece, o meu amigo MORENO PINTO, um dos mais consagrados técnicos de som nacionais, viu ali aqueles 5 "putos" sem qualquer experiência de estúdio a tentar gravar 2 canções e sorria um sorriso muito terno, muito "pai". Não sei se simpatizou comigo. Conversámos um pouco e ele disse: Eh! Pá! isto está muito cru, precisa de uns truques! Eu disse-lhe: Amigo, estamos nas suas mãos, não temos experiência e, como vê não está ninguém da Editora, ajude-nos como a sua consciência ditar.
Ajudou muito, rodou aqueles botões todos. Tentou, voltou a trás, experimentou de novo e, finalmente, foi ele que produziu e fez as misturas finais.
Estávamos na lua. Tínhamos na mão a hipótese de um disco. Arranjou-se até nome para a nova banda. Seria a "banda desenhada". Já não me recordo bem mas gerou-se a propósito nem sei de quê, uma discussão louca entre os músicos, e resolveram não seguir com o mini projecto. A banda desfez-se, mas as gravações estavam feitas.
No final do 2º dia, já nas misturas finais, aparece o promotor da Editora, muito atarefado a perguntar como as coisas tinham corrido. Posto ao par do que se tinha passado com a banda, ele perguntou-me se eu não me importava de dar apenas o meu nome. As canções eram minhas, musica e letra e disse que não me importava.
Resolvido isso o Promotor foi ter com o MORENO PINTO o técnico de som e simultaneamente produtor do disco e pediu-lhe se lhe podia dar uma bobine de promoção, porque ele tinha um programa na Rádio Renascença para começar a fazer a promoção do Disco.
O Moreno Pinto, velha matreira, deu-lhe uma cópia em Mono.
Foi a partir dessa cópia que a Gira mandou prensar o single. A Gira nunca pagou o estúdio. O single saíu em mono. Enfim, o primeiro embuste da minha pobre carreira... mas isso é outra história.
Curiosamente, uma fita pirata deu origem a um single que fica na história do Rock Português. Estou orgulhoso.
Obrigado Aristides Duarte pela tua grande memória.

7 comentários:

Anónimo disse...

Estamos todos de parabéns com este livro! Os artistas, o rock português , o público e, em especial o Aristides Duarte.

Anónimo disse...

Caro Joao Moutinho
Uma bela historia. A Gira de resto era especialista nessa matéria da pirataria. E se o seu disco pirata saiu depois de Maio de 81, ainda nos podemos gabar, os Trabalhadores, de termos sido o primeiro alvo deste tipo de pirataria em Portugal. Havia outras formas, como fizeram vezes sem conta com discos do José Cid ou do Zeca Afonso, quando saíam cassetes para a rua no momento em que o disco era lançado. Inclusivamente uma vez enganaram-se e a cassete pirata saiu antes do vinil estar disponível, o que imediatamente deixou patente a origem de uma boa parte da pirataria de entao.
Onde se podem encontrar estas cançoes suas? Tenho grande curiosidade.

Maurício disse...

Lol , eu um jovem com 29 anos ainda passo esse single sempre que posso,nomeadamente A pastilha (gostei dessa composição com os meus 7 anos!), pai e mãe obrigado por manterem os vinis :P , e um grande abraço ao João Moutinho , que era um "rebelde" da época mas que lá gravou um 45 rpm! PS:realmente é uma pena "Girar" em mono.

Anónimo disse...

TENHO EU UM VINIL 45 RPM ROCKOLAGEM e A PASTILHA.ESTA NOVO FOI USSADO 3 VEZ POR MIM

alanjunior disse...

alanjunio@msn.com
ROCKOLAGEM e A PASTILHA.

vendo

Unknown disse...



Sr Aristides Duarte,
Desculpe

Unknown disse...



Sr. Aristides Duarte
Desculpe se incomodar. podia informar-me como posso contatar o
viola vaixo dos Ekos Joaquim Vieira ?
Agradecia muito nechopinto@gmail.com